quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Todos os povos


Quinze de Agosto, ontem, era feriado nacional, tudo fechado. Mas as vendas de indianos, senegaleses, muçulmanos são abertas. Toda uma região, onde se escuta todas as línguas, menos italiano.  Se come samosa, kebab, cuscus. Caminho em direção ao Jardim Botânico, um indiano, de menos de vinte anos, começa a conversar comigo, quer me conhecer, faço que não entendo, que não falo italiano, ele insiste agora numa mistura de italiano, inglês, português: birra, birra, today, dopo my lavoro, obrrrigado. Fujo.
O conceito de mercado é um pouco diferente de tudo que eu conhecia. É uma região, um bairro. Milhares de vielas com construções de 2 a 5 andares dos dois lados, com roupas penduradas em cima da sua cabeça, de repente surge um largo onde um monte de barracas se aglomeram. É apertado e súbito pode ter uma moto em cima de você ou um taxi aberto, uma mistura de uma vespa gigante, com um pedalinho. Peixe, verduras, pão, roupa, além das bancas tem milhares de portinhas oferecendo de cerveja a roupa de cama. Os vendedores parecem uma orquestra. Um começa a cantar seu produto, outro entra com um tom mais grave, logo tem outro mais agudo e a música soa por todos os lados, impossível entender qualquer coisa. E a coisa se repete a cada largo com um outro aglomerado de barracas, peixe, frutas, coisas de casa, soando uma nova sinfonia. Tem muitos produtos diferentes como a abóbora d'agua, e suas folhas, que me dizem ser comestível. Um figo da índia rosa por dentro, lindo. Banana, limão siciliano (claro), abacate...O café da manhã na vendinha da esquina é um tipo de brioche com uma bola de sorvete de café dentro. Único. Não posso dizer mais nada. A senhora loira, maquiada para uma festa, com um penteado alto, me pergunta se vou comer lá ou levar para casa - como posso portar à casa aquele sorvete derretendo dentro do pão? Como observando como fazem o casal de velhinhos ao meu lado. Tem lixo por todo lado, em alguns lados mais. Parecem verdadeiros depósitos de lixo em meio à cidade, junto com garrafas de plástico, um colchão velho, caixas de papelão, restos de um brinquedo e de uma geladeira,  e pombos que fazem a festa.
No ônibus a caminho do mar, um senhor franzino, de 62 anos, me cede seu assento, insisto que não é preciso, mas ele já se levantou e claramente trocou este assento por uma conversa. Fala comigo em dialeto. Não entendo nada. Tento dizer a ele, que não me ouve. Agora me mostra o santinho da mãe e conta que é morta, depois reclama do preço da água. Desisto de dizer que não entendo bulhufas e aceno com a cabeça, concordando. A praia é logo ali.
Conheço um casal jovem de chineses, estão perdidos como eu no bairro-mercado de Ballaro, onde é o hostel que estou hospedada. Conversamos num inglês difícil, o menino fala um pouco a menina só ri, eu sou a melhor o quê não é muita coisa. Ele fala da sua paixão pelo futebol brasileiro eu falo da minha pelo tai chi. Eu não sei nada de futebol, ele não sabe nada de tai chi. Desistimos da conversa, inútil para os dois, caminhamos calados.
Estou encantada, o caos tem nome: Palermo.



Boníssimo isto: barraca de melão, depois uma de roupa e bugingangas, depois o pão!



Figo da índia colorido, naturalmente! descascado sem espinhos, perfeito! 


Uma feira de coisas usadas bem embaixo à minha janela, no canto esquerdo é lixo.





3 comentários:

  1. O texto caótico nos ajuda a compreender o caos que você presencia

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  2. Olá Teresa,

    Estou encantada com seus relatos...Eles criam belas imagens...
    Paz e muita Luz, sempre!
    Lilian

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  3. Que bom Lilian, espero que a imagem do caos, seja um caos belo. Porque já estou encantada com a confusão de Palermo.

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