quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Figos para minha mãe



Um dos motivos que me trouxe à Puglia foi uma conversa com Vittória, uma amiga de Padua, que me disse que aqui era a terra do figo e que agosto era o mês da safra. Isso ativou alguma coisa dentro de mim. Não sei explicar bem e pode parecer que sou viciada em figo, mas foi como um carinho, uma lembrança boa que me guiava, e eu vim. Eu não sou viciada em figo, minha mãe é. Eu gosto dele fresco, gosto das sementinhas estourando na boca misturadas à aquelas cobrinhas minúsculas, tenho certeza que Ferran Adria inspirou muitas de suas experiências gastronômicas no figo. Minha mãe gosta de tudo de figo. Do tradicional doce de figo mineiro ao rami. Vê-la feliz é chegar em casa com um pacote de figo seco. Chega a época do figo verde, e lá tá ela com um doce que encomendou da amiga que trabalha na cantina da escola ou comprou da senhorinha da feira de Entre Rios...Quando fui à Colômbia trouxe de presente biscoito, tipo goiabinha, só que de figo, só para ela. Minha paixão com figo é coisa recente, a dela não, me lembro ainda criança que não entendia bem sua alegria ao encontrar uma lata de figo rami no mercado. Isso era coisa rara naquela época, mais que rara era um produto de festa, especial. Ela sempre soube o que era bom, eu demorei um pouco...

Aqui encontrei uma variedade de figos impressionante, pequeninnho verde, grande verde com a polpa branca, com a polpa vermelha, roxo com a polpa mais vermelha ainda, é um desfile de figo. E tem figueira como tem goiabeira em Entre Rios, ou cajueiro em Aracaju. Assim, na rua, pra todo lado, todo terreno baldio é uma plantação. Os carros param na beira da estrada para os motoristas colherem figo. Eu provo todos até ter meu preferido. Nas idas e vindas procurando Rosalinda eu que me perdia debaixo de uma figueira nova, que eu ainda não tinha experimentado.

Experimentei também pela primeira vez o figo da india. A primeira experiência foi colhê-los e confesso não foi muito boa, ele é cheio de espinhos pequenininhos, um vento é suficiente para ter espinho nas suas costas, pé, braços. Sem falar nas mãos, mesmo colhido com uma sacola plástica de proteção. A segunda experiência foi bem melhor, comê-los! Uma fruta muito delicada de sabor. Gostei da textura e do frescor e das sementinhas, maiores que a do figo normal, mas gostosas também. A terceira experiência foi uma lenda que contaram enquanto comíamos as figos da india na pizzada da minha despedida no Sarruni. Contam que estes figos eram servidos no café da manhã tradicionalmente e que isto tinha começado nos locais de videira, na época da colheita. Era uma forma de fazer com que as pessoas que colhiam não comecessem a uva pois existia uma lenda que dizia que comer uva e figo da india era uma bomba para o intestino, uma semana sem ir ao banheiro, no mínimo As pessoas tinham medo, mais ou menos como nós com a manga com leite. Gosto dessas histórias populares, meio lenda meio verdade. Eu por via das dúvidas não cheguei perto das uvas essa noite.

  
Mãe, não posso levar os figos mas fiz as fotos de presente!

6 comentários:

  1. Sonia, tenho até vergonha tem horas de tanta gula. É gula do mundo!

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  2. TT, minha boca encheu de água.... amo figo assim madurinho...

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  3. Pati querida, tudo de bom figo né? eu tô amando conhecer outros...outro dia fizemos uma massa tipo bolinho de chuva com um figo pequenininho dentro e fritamos...coisa de louco!

    beijo

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